O Facebook é o novo Google?

Por que a maior empresa da internet, que faturou mais de US$ 26 bilhões em 2009 (90% em publicidade on-line), deveria temer uma rival que, seis anos depois de criada, ainda não sabe de onde virão seus lucros? A resposta, numa palavra, é futuro. Na semana passada, a empresa de medições de audiência Compete anunciou que em um ano a rede social Facebook quase duplicou seu número de visitantes únicos – o número de pessoas diferentes que acessaram o site em um mês. Mais: em número de acessos (contando as visitas repetidas), tornou-se o maior site dos Estados Unidos, ultrapassando o gigante das buscas, Google.

A ameaça pode ser entendida quando se conversa com a publicitária Luiza Pinheiro Raposo, de 24 anos. Em 2004, quando estudava na Universidade da Geórgia, em Atlanta, o Facebook virou febre entre os estudantes. A estratégia de seu criador, Mark Zuckerberg, foi restringir o site a universitários americanos. Em pouco tempo, o Facebook se tornou a principal forma de trocar e armazenar informações em uma página personalizada. Fotos, vídeos, convites de eventos, enquetes, jogos: tudo se fazia por ali. “Sempre usei o Facebook para me comunicar com amigos”, diz Luiza, americana filha de brasileiros. “Tenho mais de mil fotos em meu perfil.” Quando o Facebook se transformou numa rede totalmente aberta, em 2006, tinha um público cativo e influente: os jovens. Em dois anos, a febre se espalhou para outras faixas etárias e para outros países. Em seus primeiros cinco anos, o Facebook conseguiu 150 milhões de usuários. Apenas oito meses depois, o número dobrou. E, em dezembro de 2009, o site unia 350 milhões de pessoas – um quinto de toda a população mundial com acesso à internet.
Em 2009, o Facebook alcançou 350 milhões de usuários – um quinto dos internautas do mundo

Mais que o crescimento assombroso, o trunfo da rede de relacionamento é... entender de relacionamentos. Por sua própria natureza, ela coleciona informações sobre os internautas. E esse é um nicho valioso no mundo da publicidade, porque permite que as empresas anunciantes gastem seu dinheiro para falar com as pessoas que lhes interessam. O Google, em contrapartida, cresceu como o grande agregador das informações na internet. O segredo para fazer isso é seu mecanismo de busca. Graças a ele, domina a internet (no Brasil, quase 90% dos usuários que buscam algo na internet pesquisam pelo Google). O segundo buscador mais consultado do mundo é o YouTube, que desde 2006 pertence ao Google. Qualquer site que não apareça no Google ou no YouTube tende a ficar invisível para os internautas – e isso é um poder e tanto. Só que os algoritmos de busca são, eles próprios, cegos. Daí a dificuldade de explorar o nicho da publicidade dirigida.
Nesse terreno, os bilhões de acessos do Google e de seus outros serviços, como Gmail (e-mail), Google Docs (software on-line de escritório) e Picasa (fotos), são menos eficientes que os cliques dos 350 milhões de usuários do Facebook, cada um com um perfil que inclui faixa etária, classe social, gostos e objetivos, fotos e vídeos. São 850 milhões de fotos e 8 milhões de vídeos a cada mês, segundo o Facebook. Até a navegação em outros sites está sendo incorporada. Em dezembro, Zuckerberg lançou o Facebook Connect, um acordo com 10 mil sites que permite publicar informações no Facebook a partir de suas páginas. Você pode copiar em seu Facebook algo que leu num portal, acrescentando comentários. “Eles conseguem buscar informações do usuário, mesmo quando ele está navegando em páginas de terceiros”, diz Max Petrucci, presidente da agência Garage Interactive Marketing. “O Google nem sabe quem você é.” O mercado de anúncios centrados na construção da marca de uma empresa (conhecido como branding) gira em torno dos US$ 500 bilhões no mundo, e só 10% vão para a internet. Quando o dinheiro começar a entrar com mais intensidade, é provável que se dirija para as redes sociais. Por isso é estranho que o Google, dono da rede de relacionamento Orkut (sucesso principalmente no Brasil e na Índia), não tenha aproveitado a base para combater o Facebook em seu próprio terreno, fazendo do Orkut uma operação global.

Não é de agora que o Google sabe do perigo do Facebook. Logo que se tornou uma rede aberta, o Facebook começou a “roubar” funcionários do Google – até então era visto como a empresa mais “legal” para trabalhar no mundo. Segundo a revista Wired, 9% dos 1.200 funcionários do Facebook atualmente vieram do Google. Em 2007, Larry Page, cofundador do Google, quis investir no Facebook. Zuckerberg preferiu aceitar um aporte de US$ 240 milhões da Microsoft (em troca de 1,6% das ações da empresa). Era um sinal.

A posição privilegiada entre as redes de relacionamento não implica que o Facebook terá um caminho fácil pela frente. Seu maior problema é que, ao contrário do Google, o site não parece ter um modelo de negócios seguro. Todas as vezes que tentou tirar proveito monetário dos perfis de seus usuários, o Facebook esbarrou em obstáculos. No final de 2007, Zuckerberg lançou o Beacon, um serviço que incluía publicidade nas notificações de novas mensagens recebidas. A chiadeira foi tamanha que, meses depois, o Beacon foi abandonado. Recentemente, o Facebook alterou os termos de privacidade dos usuários, tomando posse de toda a informação publicada em seus perfis. De novo, as reclamações o obrigaram a voltar atrás. “Leio as mudanças nos termos que falam sobre a privacidade de vez em quando”, diz Luiza Raposo. “Confronto esse medo colocando menos informações pessoais hoje do que na época em que comecei a usar.” Zuckerberg sabe que não pode correr o risco de os internautas desconfiarem e economizarem informações. O drama do Facebook é ter uma mina de ouro e não conseguir os meios de explorá-la.

fonte :REVISTA ÉPOCA

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