Vulgar ou sensual?



Uma mulher queixava-se dos homens do seu grupo social, pois entendia que eles a desrespeitavam. Não se via como atraente, mas eles a definiam como vistosa e provocante. Ela perguntou para uma irmã e uma amiga o que achavam do seu comportamento. Ambas não a definiram como incitadora, mas disseram que ela chamava a atenção em algumas ocasiões, arriscando um decote mais profundo, um jeans arrojado, uma saia curta.

A opinião das outras mulheres não esclareceu muita coisa. Ela perguntou a um colega de trabalho que assumia claramente a orientação sexual de gay. Este brincou com ela dizendo: “se eu nascesse mulher, gostaria de ter o seu corpo, mas continuar com a minha própria alma, pois você não sabe o que é malícia e eu sei muito bem!”.

O comentário do amigo homossexual também criou contradições. Ela havia lido um livro sobre grandes sedutoras da História, mulheres que exerciam táticas para atrair, enganar e espionar homens importantes. Essas personagens femininas, além de usar seus corpos esculturais, pareciam atuar com alto espírito malicioso, audaciosas e premeditadas.

De um conhecido que costumava cercá-la com xavecos, ela ouviu que aquele modo de vestir-se, andar e sentar eram suficientes para fascinar os homens. E quando falava e movia os cabelos, era demais, eles se derretiam.

Tudo parecia estranho e incompatível para a nossa focalizada. Ela não escolhia roupas pensando em sugerir fascínios, não imaginava reações nos homens, nem contava com a presença deles. Por vezes até ideava sobre as homorrivais, as mulheres que poderiam observá-la, captando críticas ou elogios.

Falando em homorrivalidade feminina, é sabido que muitas mulheres preocupam-se mais com o impacto que sua produção causará nas outras mulheres do que nos homens. Há, no entanto, aquelas que se produzem para atraí-los.

A mulher do nosso exemplo, como a maioria feminina, pensava mais na observação das outras. Porém, os homens é que a notavam e reagiam vigorosamente à sua presença.

Uma analogia tem sido útil na minha clínica: um sujeito tem um barco e convida amigos para um passeio panorâmico, para mostrar a linda paisagem daquele trecho marítimo. Depois de algum tempo, um convidado começa a procurar uma vara de pesca. O dono da embarcação retruca: “não trouxe varas, não viemos pescar”. O outro se desculpa, dizendo que viu muitos peixes e não resistiu à tentação.

A diferença entre sensualidade e vulgaridade corresponderia respectivamente à ousadia erótica e pornográfica. Podemos entender o erotismo, o estilo sensual, como um fenômeno indireto, de caráter ambíguo, como uma translucidez, a abertura insinuada e não revelada por inteiro. Por outro lado, a pornografia, o decurso vulgar, é o comportamento direto, de característica indubitável, como a transparência total, inteiramente declarada.

Os dois níveis são excitantes, mas os que preferem o critério de exibição explícita e resoluta limitam as abstrações. Quem se delicia com a ação erótica, mais velada, duvidosa, expande a subjetividade.

As mulheres que exercem o jogo sedutor de forma premeditada recorrem às táticas da dissimulação. São pessoas espertas que ocultam a sua verdadeira malícia, manipulando o véu da ilusão para disfarçar intentos de outra ordem (sexuais, políticos, comerciais).

A mulher que encanta os homens com uma ambigüidade natural tende a estar duplamente erótica: há um clima duvidoso dentro dela mesma, ela atua de modo provocante sem a intenção clara de fazê-lo e ainda incita a dúvida no provocado.

Um dos símbolos eróticos mais fortes do cinema, Marylin Monroe, passava esse erotismo em dobro nos seus papéis. Há quem sugira que também na realidade ela era assim, e que por esse perfil sucumbiu à fama.

Portanto, a combinação mais amplamente sensualizada associa: a autêntica alma feminina, sua índole ingênua cingida de brejeirice, e o espírito masculino genuíno, desafiado pela sedução irresoluta, à busca do controle da situação.

FONTE : ESTUDOS  ANTERIORES

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